Se uma boa gargalhada já traz sensação de bem-estar e, comprovadamente, por meio de estudos em diversas universidades do mundo ajuda a prevenir várias doenças, diminuindo também o estresse e melhorando o sistema imunológico, imagina para quem se encontra em uma cama de hospital. A ideia de espalhar riso pelos leitos começou com o médico americano Patch Adams, que após ter grandes perdas pessoais na adolescência e durante a faculdade, chegou à conclusão que cuidar do próximo era a melhor forma de esquecer os próprios problemas e, melhor ainda, se isto fosse feito com muito bom humor. Atualmente, Adams e sua trupe de palhaços viajam pelo mundo para áreas críticas em situação de guerra, pobreza e epidemia espalhando risos.
As práticas de Adams acabaram “contagiando” não só seus pacientes, mas inspiraram outros grupos em diversos países a usar o riso como parte do tratamento. No Brasil, o mais antigo é o Doutores da Alegria, existente desde 1991, que atua junto a crianças hospitalizadas, seus pais e profissionais de saúde. A essência do trabalho é a utilização da paródia do palhaço que brinca de ser médico no hospital, tendo como referência a alegria e o lado saudável das crianças e colaborando para a transformação do ambiente em que se inserem. Nesse tempo de história, já foram realizadas mais de um milhão de visitas com um elenco de cerca de 40 palhaços profissionais.
Esquadrão da Alegria – A ideia foi se espalhando e mais e mais grupos surgiram pelo país inteiro. Um exemplo é o Esquadrão da Alegria, que atua nas cidades gaúchas de Santa Maria, São Borja, Canoas e Porto Alegre. Existente desde 2008, é formado por 80 palhaços e atende diversas instituições, entre hospitais, clínicas, escolas e creches.
De acordo com Mártin Pasini, diretor de comunicação do grupo, eles são “médicos besteirologistas”, ou seja, são palhaços que brincam de ser médicos no hospital. “As interações são variadas, mas muito depende do momento: brincadeiras, mágicas, cantigas e danças são parte do nosso trabalho. Não existe uma receita. Obesteirologista propõe brincadeiras. Por exemplo, na hemodiálise, a medicação vira suco de morango. O soro da criança vira aquário, onde simulamos que existem peixes. Enfim, transformamos o dia a dia duro do hospital, em que cada um tem uma história difícil para contar, ao trazer o paciente para o nosso universo lúdico, fazendo que por alguns momentos ele esqueça que ele esta em um hospital”, explica Pasini.
Alguns momentos arrancam lágrimas de emoção de quem assiste às performances, e gargalhadas de quem recebe. O “dr. Escabelido”, como é chamado no grupo, conta um caso que aconteceu em um dos hospitais, em que uma criança estava agitadíssima porque a enfermeira tinha dificuldades de achar a veia para coletar seu sangue. “Ela estava aos berros. Entramos na sala e começamos a cantar uma cantiga. A partir desse momento, ela esqueceu a agulha e foi se acalmando, tanto que a enfermeira fez outras duas tentativas. A criança nem se deu conta do que estava acontecendo, pois estava vidrada na cantiga e na coreografia dos palhaços. Esse é um dos momentos que me marcaram, mas acredito que cada palhaço tenha outros tantos”, finaliza.
TAA – Outro tipo de atividade que vem sendo desenvolvida em hospitais e instituições é a Terapia Assistida por Animais (TAA), na qual um animal é coterapeuta e auxilia o paciente a atingir os objetivos propostos para o tratamento. O benefício terapêutico dos bichos já vem sendo observado há algum tempo no Brasil, mais precisamente em 1955, quando a psiquiatra Nise da Silveira relatou os benefícios desta interação no convívio de seus pacientes esquizofrênicos com cães e gatos adotados pela instituição onde trabalhava.
De acordo com Tatiane Ichitani da ONG Cão Terapeutas, de São Paulo, a interação dos cães varia muito de acordo com o público. “Os idosos preferem conversar, relembrando histórias de seus cães na infância, por exemplo. Já as crianças, preferem brincar, correr, ensinar truques. Em hospitais, os cães fazem companhia por alguns instantes para alegrar as crianças”, comenta.
A Cão Terapeuta surgiu em 1998 e atualmente tem 40 cães, entre vira-latas, golden retrievers, labradores e outras raças, que vão ao encontro de cerca de 160 pessoas por mês, em três hospitais, uma casa de idosos, uma creche e uma instituição que atende crianças com paralisia cerebral. Todos os bichos têm ao menos dois anos, passam por preparação para responder aos comandos, são vermifugados e podem ou não estar acompanhados por seus donos nas visitas.
Segundo Tatiane, a história mais incrível que o grupo já presenciou foi de uma criança com paralisia cerebral que não prestava atenção em nenhuma atividade proposta pela instituição. “Após o início das atividades com os cães, ela passou a reconhecer alguns deles na rua durante seus passeios matinais, o que emocionou todas as pessoas envolvidas”, recorda e completa: “a resposta a este trabalho é muito rápida, por isso tão gratificante. Qualquer pessoa pode se beneficiar com essa terapia.”