Por Annelisa Faccin
Minha escuta é crítica quando alguém me diz que tem um tempo livre para o voluntariado.
Ser voluntário demanda muito mais que tempo livre para se dedicar a uma causa. Demanda disposição emocional para despir-se constantemente de um posicionamento autocentrado e de suas dores, e olhar para o outro; demanda empatia e compaixão para acolher a dor do outro; demanda alta tolerância à frustração para saber que aquele dia a sua intervenção não contribuiu para o bem-estar do outro; demanda pontualidade e assiduidade para cumprir com os compromissos assumidos; demanda humildade para perceber que naquele momento da sua vida, quem precisa de ajuda é você; demanda ter a consciência de que o coletivo tem primazia sobre o individual; demanda inúmeras vezes, abrir mão do trabalho remunerado para estar integralmente com o outro; implica em gasto financeiro como combustível, estacionamento e, no caso dos nossos voluntários, banhos e cuidados médicos com os cães; demanda se ausentar, eventualmente, de compromissos familiares e sociais; e demanda, acima de tudo, uma busca pelo autoconhecimento, pois em algum momento poderá ocorrer uma identificação com a dor do outro e quando essa identificação acontece, se o voluntário não estiver emocionalmente bem estruturado, haverá sempre um “bom motivo” para não comparecer aos compromissos.
No caso dos voluntários do Instituto Cão Terapeuta, demanda também, conhecer profundamente e compreender seu parceiro coterapeuta, o cão. Saber se ele gosta ou não desse trabalho, ou se o desejo de estar ali é apenas do condutor voluntário; perceber se há algum desconforto físico ou emocional com ele; saber se ele é um animal equilibrado e com aptidão ao trabalho; reconhecer a hora de parar; respeitar seu bem-estar acima de tudo.
Portanto, se além de tudo isso, a pessoa tem um tempo livre (tão raro e precioso!), o voluntariado pode ser uma experiência maravilhosa!
Este texto é uma homenagem aos voluntários do Instituto Cão Terapeuta, que sabem que os assistidos nos esperam, sempre.