De repente a gente muda, Nextel Brasil

É comum vermos, nos parques da cidade, donos ensinando seus cãezinhos a fazer truques dos mais sofisticados. Tati Ichitani prefere ir na contramão desse processo: ela acredita que os cachorros podem nos ensinar muitos truques para tornar a vida mais simples e alegre. Com essa filosofia, ela criou a Cão Terapeuta, uma ONG que reúne voluntários e cães terapeutas com a missão de levar um pouco dessa alegria para as pessoas que estão em situação de vulnerabilidade.

“Todo mundo sabe que a convivência com os animais traz muitas coisas boas pra nossa vida.”

Eu sempre tive cachorro na minha vida – praticamente desde que eu nasci –, sempre tive esse contato com cachorro. E depois disso nunca mais fiquei sem. Então, na faculdade, acabei unindo o útil ao agradável, porque foi quando eu ouvi falar pela primeira vez desse assunto, que as pessoas chamavam de pet terapia. Eu fiquei curiosa e então descobri a intervenção em que o cachorro auxilia diversos tipos de tratamento – em psicologia, em pedagogia, em fisioterapia, no hospital, etc. Eu já saí da faculdade com essa ideia de trabalhar com cães em consultório. Nesse momento em que fui pesquisar a respeito do assunto, o Bruce apareceu na minha vida. Na época, eu ainda morava na casa da minha mãe, meu irmão ganhou o cachorro e o trouxe para casa. Mas como ela já tinha dois cachorros, o Bruce se sentiu perdido e ela ficou doida, porque ele era essa coisa “pequenininha”. Como nessa época eu estava saindo da casa da minha mãe, decidi levá-lo pra minha casa. Decidi que o Bruce iria fazer parte da minha família.

“Venha aqui cachorro. Agora sou sua família.”

Logo que mudamos, a gente começou a ter uns problemas de convivência, porque ele cresceu, era muito bagunceiro e não se comportava em passeios por ser muito ativo e muito grande. Então, comecei a procurar indicações de adestramento e comportamento animal pra melhorar nossa convivência e encontrei a Cão Cidadão, que é uma empresa de adestramento e comportamento animal. Quando o Bruce começou a frequentar o adestramento, me interessei ainda mais pelo comportamento animal e também comecei a fazer parte da equipe da Cão Cidadão. Lá dentro, já existia o projeto Cão Terapeuta, mas estava um pouco adormecido, funcionava muito esporadicamente: a gente se organizava na Páscoa, no Natal, no Dia das Crianças, pra levar os cachorros pra interagir com crianças de abrigos, creches, crianças carentes. Em 2009, eu e mais um grupo de adestradores resolvemos tornar o projeto mais frequente e começamos a fazer visitas mensais e quinzenais em algumas instituições. O projeto começou a crescer cada vez mais e foi quando decidimos trabalhar com voluntariado, porque só com a nossa equipe não estávamos dando conta de atender todas as instituições.

“Finalmente, em 2013, nos tornamos o Instituto Cão Terapeuta.”

Atualmente, no instituto, temos 54 cães terapeutas, todos com seus donos, que são voluntários, e mais 20 adestradores, também voluntários, que ajudam a coordenar essas visitas e manter o bem-estar tanto do animal quanto da pessoa que está sendo atendida.

“Nossa missão é levar bem-estar e qualidade de vida pras pessoas que estão em situação de vulnerabilidade.”

A gente tem um processo seletivo tanto de pessoas quanto de cães, porque as duas coisas têm que combinar: não adianta só a pessoa querer e o cachorro não estar apto a essa atividade. E nem o inverso: se a pessoa não quer e o cachorro for ótimo, também não funciona. E daí também tem todo um protocolo de saúde que todas as instituições exigem, é o antipulga todos mês, é o vermífugo de três em três meses; a gente faz também diversos exames pra verificar se o cão tem algum tipo de verme ou não. Então, eles são rigorosamente avaliados antes de ir pra visita.

“É muito gratificante o retorno e por isso não tem como parar de fazer.”

Os benefícios, no geral, acredito que tem a ver mais com autoestima e qualidade de vida. É muito legal quando você vê um voluntário se emocionando com aquilo que ele tá fazendo, um idoso que tem problema de memória, mas o nome do cachorro ele lembra, né? Ou então uma criança que tinha problemas na escola, de agressividade e tudo mais. E depois que a gente começou a trabalhar com os cães no grupo, a gente viu que a agressividade diminuiu, a concentração melhorou. Pra mim, o retorno é muito grande, você vê o efeito, você vê a melhora, você vê que está fazendo alguma coisa pra ajudar uma pessoa, pra que ela fique melhor do que ela está. Isso vale muito a pena porque é uma coisa simples na verdade, né? O afeto é uma necessidade do ser humano. A gente precisa disso em qualquer fase da nossa vida. Até porque você só precisa estar aberto para que o cachorro entre na sua vida. E o cachorro não quer saber quem você é. Se você é pobre, se você é rico. Se seu cabelo é assim ou se é assado. Se você tem algum problema físico ou não. Pra ele, não importa. Ele está ali porque simplesmente gosta de estar ali, gosta de trocar carinho, gosta de ouvir as suas histórias.

“É uma relação livre de preconceito.”

Todos os cães que passaram pela minha vida me ensinaram muita coisa. Eu sou uma pessoa mais paciente, uma pessoa mais persistente, uma pessoa melhor. Por isso, eu acho que as pessoas têm muito que aprender com os animais – tudo é mais simples pra eles.

“Não tenho nenhuma dúvida de que o mundo seria muito melhor se as pessoas fossem mais parecidas com os cachorros.”